quarta-feira, 2 de junho de 2010

Viagem ao centro de Nápoles

          Histórias de guerra, vestígios da Roma Antiga, cemitérios e passagens secretas: pode-se encontrar de tudo nos subterrâneos desta cidade italiana.

 

          As ruas estreitas de Nápoles espelham perfeitamente a imagem que os estrangeiros fazem da Itália. Nelas, as pessoas “falam com as mãos”, o sotaque é carregado e o trânsito caótico.



Alguns trechos mais estreitos obrigam os visitantes a passar abaixados


          Como toda cidade italiana, Nápoles esconde em seu subsolo histórias de épocas passadas. Cemitérios antigos, passagens secretas e teatros romanos são algumas das surpresas que os aventureiros encontram pelo caminho.



          Além de contar a história passada, essas centenárias galerias subterrâneas também começam a ser usadas para fins mais atuais. Há pouco tempo, a ONG Napoli Sotterranea adquiriu e reformou o espaço de uma antiga marcenaria. Em breve, o local se tornará uma escola de pizza (a temperatura subterrânea é perfeita para empastar a massa).



          A organização ainda planeja inaugurar um bed and breakfast dentro de um antigo teatro que existe no subsolo. Quem quiser se hospedar neste inusitado hotel subterrâneo de 2.400 anos já pode começar a fazer reservas no site da ONG.



          Se dormir embaixo da terra é uma ideia que não te atrai, conheça quatro passeios que você pode fazer pelo subsolo de Nápoles:

 
 
Aqueduto Bolla e teatro greco-romano


Onde fica: Piazza San Gaetano, 68, bairro San Lorenzo

Entrada: 9 euros
 
 
A impressionante saída do Aqueduto Bolla


          Construído pelos gregos, o aqueduto Bolla atravessa o subsolo do centro histórico de Nápoles. Apesar de só três dos seus trinta e sete quilômetros poderem ser percorridos pelos turistas, o caminho revela muitas supresas.

 
          O passeio começa com a descida de uma escada de 140 degraus construída durante a Segunda Guerra para que a população tivesse acesso aos abrigos subterrâneos. Lá embaixo, a mudança de temperatura é imediata: independente do clima externo, a média no subsolo é de 18°.

          Em cada parada, abrem-se galerias pequenas e grandes, numa profundidade que pode passar de 40 metros. As galerias são interligadas por vários níveis de passagens longas e muito estreitas – algumas só podem ser percorridas de lado. Em alguns trechos, os visitantes recebem velas para iluminar a travessia.

          De repente, surge uma ampla galeria, parecida com uma piscina coberta. Trata-se da cisterna Imperial. No alto, uma ânfora presa a uma corda mostra como os antigos moradores da cidade apanhavam água.


         O trajeto subterrâneo reserva outras surpresas. Uma delas é uma estufa hidropônica com diversas plantas. Criada em 1988, ela é resultado de um concurso realizado pela Universidade Federico II para criar novas formas de reutilizar o subsolo napolitano. Mais adiante, é possível conhecer a galeria que fica abaixo da igreja de São Gregório Armeno, usada antigamente como adega pelas freiras da ordem de Santa Patrizia.




Passagem secreta leva ao impressionante teatro greco-romano


          A cem metros dali, numa casa aparentemente normal, uma insuspeita cama esconde uma passagem secreta para uma longa escada de tufo. Ela desce direto para o que foi, no passado, os bastidores de um teatro greco-romano, com corredores, paredes e arcos antigos em perfeito estado de conservação. Segundo a lenda, um dos artistas a se exibir no local foi ninguém menos do que o Imperador Nero.

 
          A estrutura do teatro até poderia ser recuperada, não fossem os 14 mil prédios construídos sobre ela. "Não podemos derrubar prédios do século 17, seria uma perda enorme", explica Vincenzo Albertini, geólogo e presidente da ONG Napoli Sotterranea. "Aqui, cada casa tem um pedaço de teatro dentro", completa.

          Os passeios no sítio arqueológico levam 1 hora e são acompanhados por guia. As explicações podem ser feitas em sete línguas, mas o português não está incluído entre elas. Pessoas claustrofóbicas ou ansiosas são aconselhadas a não descer.

 
          Ao fim do trajeto, não deixe de dar uma passada no pequeno museu de guerra. Outra dica: compre na lojinha da Napoli Sotterranea uma garrafa de vinho Tufello, aquele guardado pelas freiras nos subterrâneos de pedra tufo.



Aqueduto Carmignano


Onde fica: Vico S. Anna di Palazzo, 52

Entrada: 9 euros
 
 
 
          Objetos da época da guerra podem ser vistos no passeio



          Calcula-se que os subterrâneos de Nápoles abrigaram cerca de quatro mil refugiados durante os bombardeios que destruíram a cidade na Segunda Guerra. Eram crianças, idosos, doentes e soldados desertores que se desfaziam dos uniformes e se misturavam à multidão.

          No bairro Quartieri Spagnoli, o Aqueduto Carmignano traz sinais da presença desses refugiados napolitanos. Datadas de 1629, as galerias guardam objetos como artefatos de guerra, brinquedos, utensílios domésticos e até uma máquina de costura.

 
          Algumas paredes ainda conservam desenhos e escritos. Em uma delas, uma criança escreve: "Mamma, non piangere" (Mamãe, não chore) e "Aiuto" (Socorro). Em outras, surgem caricaturas de Hitler e Mussolini, um dirigível lança-bombas e o esquema tático de um jogo de futebol. Sabe-se também de diversos nascimentos e casamentos ocorridos ali. Numa das grutas, aparece escrito: "Anna e Renzo, casados hoje, 20 de setembro de 1943".



Museu do subsolo napolitano


Onde fica: Piazza Cavour, 140, Quartiere Stella

Preço: sob consulta
 
 
          Curado pelo espeleólogo Clemente Esposito, o museu do subsolo fica numa ampla galeria de tufo, de 3.400 metros quadrados. Liberado do entulho que a entupiu por décadas, o local abriga atualmente diversos objetos encontrados por Esposito, em 30 anos de buscas arqueológicas pelos subterrâneos da cidade.

          A galeria tem vários níveis e chega a até 25 metros de profundidade. O local, que também serviu como abrigo antiaéreo, ainda traz desenhos na parede, como um submarino italiano contra navios inimigos.

 
          É preciso agendar a visita ao museu. Grupos de 30 pessoas podem também assistir a uma peça teatral sobre a história de Nápoles. Após o espetáculo, é oferecido um buffet ao público, com direito a vinho e produtos típicos da região.



Cemitério delle Fontanelle

Onde fica: Via Fontanelle, 77, bairro Rione Sanità

Preço: de graça


          Antes de ser cemitério cristão, o local era uma necrópole pagã. Durante a peste de 1656, que dizimou 300 mil pessoas, os cadáveres abandonados pela cidade foram jogados nesta galeria para liberar as ruas. O mesmo aconteceu na época da epidemia de cólera, em 1836.

 
          Dizem que as ossadas visíveis somam 40 mil. Mas é possível que haja 4 metros de ossos escondidos abaixo do pavimento. Entre as diversas lendas envolvendo o famoso ossário, existe uma que diz que os napolitanos têm o hábito de "adotar" um crânio anônimo em troca de uma graça ou de números para jogar na loteria. Se a graça for concedida, o crânio ganha uma casinha de mármore, madeira ou lata de biscoitos, de acordo com o montante em dinheiro do milagre.

 
          O cemitério só abre em determinados períodos do ano. De acordo com um funcionário da prefeitura, é possível fazer o passeio por conta própria e sem pagar nada, mas é preciso ser cauteloso. O mais garantido é se informar com a entidade que organiza os passeios sobre o horário de visitação


A história do subsolo de Nápoles
 
 
          Os subterrâneos da cidade italiana já serviram como cemitério, esconderijo de mafiosos e abrigo durante a guerra. Hoje, são usados para passeios turísticos.
 
 
 
          A história das galerias subterrâneas de Nápoles começa com os gregos, em 474 a.C. Para erguer casas, muralhas e aquedutos, eles escavavam a terra em busca de uma pedra conhecida como tufo amarelo. O material, de origem vulcânica, era bastante utilizado nas construções por sua capacidade de absorver abalos sísmicos.
 
 
 
Galeria subterrânea aberta para visitação em Nápoles
 
 
          Séculos depois, os romanos transformaram as galerias subterrâneas em cisternas. Atualmente, calcula-se que existam 14 mil delas no subsolo de Nápoles, ligadas entre si por passagens estreitas.

 
          Séculos de escavações fizeram com que toda a extensão subterrânea da cidade fosse percorrível. Mas, em 1885, uma epidemia de cólera matou mais de 15 mil pessoas e fez com que as cisternas fossem desativadas com medo de que a água fosse contaminada.

Epidemias e guerras


          O subsolo Nápoles tem inumeráveis grutas e cavidades que serviram como lugares de culto, depósitos de grãos, passagens secretas e cemitérios. No Cemitero delle Fontanelle, por exemplo, eram enterrados os pobres mortos pela peste (no século 17) e pela cólera (no século 19). Até a temida máfia napolitana, a Camorra, já usou os subterrâneos da cidade como esconderijo



Objetos da época da guerra ainda são encontrados no subsolo

 

          Depois das epidemias, os subterrâneos só voltaram a ser ocupados durante a Segunda Guerra, quando se tornaram abrigos antiaéreos. Durante o conflito, o governo italiano providenciou escadas de acesso, iluminação e dormitórios para mais de quatrocentas galerias. Calcula-se que cerca de quatro mil refugiados se instalaram por lá durante os bombardeios que destruíram a cidade.

 
          Quando a guerra acabou e a população voltou à superfície, Nápoles estava quase completamente destruída. Muito dos escombros do bombardeio alemão teve de ser depositado nas galerias do subsolo. Para recuperar os trajetos que, hoje, são abertos ao público, foi necessário prensar até 5 metros de detritos. Durante passeios turísticos em algumas cavernas subterrâneas, é possível encontrar de tudo, até carcaças de carros dos anos 1930.



Fonte: IG Turismo

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